domingo, 7 de dezembro de 2008

Chuvas, solidariedade e os desafios para o futuro

Milhares de brasileiros que vivem em cidades de Santa Catarina, Rio de Janeiro e Espírito Santo, atingidas pelas fortes chuvas dos últimos dias, estão sofrendo com as cheias dos rios e as conseqüentes enchentes e desmoronamentos de terra. Só em Santa Catarina, já passa de 116 o número de vítimas fatais. Há anos o Brasil não assistia a uma tragédia natural desta proporção.



Cheias e desmoronamentos como os que vimos em Santa Catarina não são imprevisíveis. Pelo contrário, há um histórico de inundações no estado. As décadas de 80 e 90 foram marcadas por enchentes que deixaram marcas profundas na memória dos catarinenses. Ainda assim, as providências tomadas pelas autoridades estaduais e municipais não têm sido suficientes para estancar as perdas materiais e humanas causadas pelas chuvas.



As cheias e desmoronamentos são fenômenos naturais, quando chove além da conta é normal rios transbordarem. E comuns os deslizamentos de terra com avalanches de vegetação e pedras em serras e morros, dependendo da formação geológica. Mas o potencial destrutivo destes fenômenos tem sido intensificado pela ação humana que ocupa desordenadamente as áreas passíveis de inundações, desmata serras e morros, polui e estreita os cursos naturais dos rios, asfalta trechos que seriam vitais para a absorção das águas das chuvas. Infelizmente, a cada forte temporada de chuvas, o resultado destes descuidos são medidos em dezenas de mortos, milhares de desabrigados e bilhões em prejuízos.



Como quase sempre acontece com tragédias como a que estamos vendo em SC, RJ e ES, os mais pobres são os mais atingidos e os que mais tempo demoram a superar as perdas materiais causadas pelas enchentes. Por falta de habitação decente, são empurrados a morar em encostas ou fundo de vales, ocupando áreas públicas consideradas de risco.



O dimensão da tragédia só não foi maior pois o Brasil, mais uma vez, mobilizou-se para ajudar as vítimas. Um gigantesco esforço nacional de solidariedade está em andamento.



Vindas de todo o país, estão chegando a SC toneladas de doações feitas por pessoas de todas as classes sociais. Artistas e esportistas promovem eventos para ajudar na arrecadação de donativos. Detentos de Joinville doaram suas marmitas para os desabrigados. Entidades e movimentos sociais como a UNE desenvolvem campanhas e mobilizam voluntários para ajudar a levar auxílio para as famílias atingidas. Até entidades empresariais, como a Fiesp, que não costuma demonstrar muito apego aos pobres vitimados por catástrofes naturais, desta vez resolveu doar um naco de seus lucros milionários para ajudar os catarinenses. A entidade diz que vai construir 5 mil casas para os desabrigados pelas chuvas.



O governo federal tomou importantes medidas para ajudar a reconstruir as áreas afetadas, resgatar vítimas e aliviar o sofrimento dos atingidos pela tragédia. Foram liberados R$ 1,6 bilhão para o Estado; os bancos federais (CEF e BB) abrirão linhas de crédito especiais para os agricultores afetados; foram autorizados saques do Fundo de Garantia para reconstrução das casas; enviados pelotões da Força Nacional de Segurança; micros e pequenos empresários serão auxiliados pelo Sebrae e o presidente Lula propôs a criação de um grupo de trabalho com especialistas da área ambiental para estudar as mudanças climáticas que provocaram enchentes em Santa Catarina.



Passado o trauma da tragédia e concluídos os esforços de socorro e solidariedade aos atingidos pelas atuais enchentes, cabe ao poder público nas três esferas e à sociedade civil organizada pensar saídas para o problema das enchentes. Não basta reconstruir o que foi destruído. É preciso executar ações de planejamento urbano e projetos ambientais que busquem enfrentar o problema na sua raiz. É preciso afastar as pessoas das áreas de risco, interditar estas áreas, arborizar os terrenos desmatados, dar um destino ambiental satisfatório para o lixo, enfim, tomar todas medidas que possam minimizar o impacto das chuvas nas regiões suscetíveis a enchentes.



Será preciso coragem e ousadia para enfrentar o problema com a seriedade necessária, já que há cidades inteiras erguidas em áreas de risco, mas só assim, realizando verdadeiras revoluções urbanísticas, será possível evitar a ocorrência de novas calamidades como as que o Brasil assistiu nos últimos dias.



Fonte: Vermelho

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