segunda-feira, 13 de julho de 2009

O internacionalismo de massas na resistência ao imperialismo

Um dos aspectos fundamentais da atuação do PCdoB é a luta antiimperialista, essência de sua linha política. Mesmo quando estão na ordem do dia lutas estritamente internas – como a questão nacional, a ampliação da democracia, as melhorias sociais e os processos internos de reivindicação popular –, ainda que se analise o cenário apenas do ponto de vista brasileiro, a questão antiimperialista está presente.



Por José Reinaldo Carvalho*


Isso porque não se pode conceber a questão nacional desligada de um sistema de dominação imperialista que foi montado secularmente no Brasil e cujo desmonte é uma obra que depende de medidas muito complexas resultantes de um processo revolucionário. Ademais, a luta antiimperialista está intrinsecamente ligada ao combate cotidiano do povo brasileiro contra o sistema de dominação da grande burguesia monopolista e financeira, entrelaçadas com os potentados internacionais que tentam subjugar o país ou mantê-lo em sua órbita de poder geopolítico. Para as forças democráticas, patrióticas e populares brasileiras, isto significa que não há uma “muralha da China” a separar a questão nacional das questões democrática e social.



A luta contra sistema de dominação imperialista em nosso país só pode ser conduzida vitoriosamente se se tomar isto em consideração, pois esta consciência terá como corolário a fixação de alvos e tarefas ajustados à realidade, à correlação de forças, ao nível da batalha em suas distintas etapas. Não haverá fórmulas simples, mas a luta antiimperialista se favorecerá de formulações programáticas corretas, métodos amplos e políticas de alianças que correspondam ao propósito de unir, organizar e mobilizar ponderáveis forças sociais e políticas.



Ilusões no “imperialismo benigno”




Nos últimos anos, particularmente durante os dois mandatos de George W. Bush o imperialismo estadunidense proclamou e levou a efeito uma espécie de tirania global. Endureceu suas políticas interna e externa, esta última sistematizada na Estratégia de Segurança Nacional, conhecida como “doutrina Bush”, um corpo de ideias de cariz abertamente fascista. A humanidade passou a viver a época da “guerra infinita ao terrorismo”, das guerras preventivas, da violação do direito internacional, da perseguição a países considerados integrantes do “eixo do mal”, do combate estratégico a países que aspiram a jogar um papel de destaque no concerto internacional, de instrumentalização das Nações Unidas, das ações unilaterais. A época, enfim, em que se tornou natural o chefe de turno da superpotência imperialista começar o discurso sobre o estado da União com a frase “A América está em guerra”.


Em tal contexto cresceu sobremaneira o papel e o lugar ocupado pelo combate antiimperialista na orientação das forças políticas de esquerda, destacadamente dos comunistas. No Brasil, foi sensível o aumento da atividade internacionalista que se traduziu na multiplicação das ações de massas, no surgimento de novas frentes, entidades e coordenações entre forças antiimperialistas, no crescimento e na ampliação da luta pela paz e na solidariedade internacional. Surge o internacionalismo de massas, o internacionalismo do povo brasileiro e isto é um mérito das forças progressistas e de esquerda de nosso país. No que diz respeito especificamente ao Partido Comunista do Brasil, tem sido fecunda a ação prática nesse sentido e a contribuição para plasmar esse internacionalismo de massas.


Tem sido uma característica saliente também da agremiação comunista brasileira a reflexão política e teórica, resultando em análises e orientações que marcam época quanto à compreensão sobre a crise do capitalismo, ao progressivo declínio histórico do imperialismo norte-americano relativamente ao apogeu de outros períodos históricos e à emergência de novos polos econômicos e de poder geopolítico, assim como na indicação de estratégias e táticas de luta. Revelou-se, assim, o antimperialismo, como um aspecto político, ideológico e prático da linha política geral e da atividade concreta do partido dos comunistas e de outras forças aliadas de esquerda.


A formação dessa consciência antiimperialista e internacionalista se faz em meio a polêmicas e exige também o combate às ilusões. Há análises que convenientemente situam os dois mandatos de George W.Bush como um hiato na história do imperialismo norte-americano . Apresentam as flagrantes violações à soberania das nações e povos, as agressões e crimes de lesa-humanidade como dificuldades que os Estados Unidos enfrentaram para harmonizar a agenda de afirmação da sua hegemonia unipolar no pós-guerra fria com os princípios do multilateralismo, numa leitura benevolente do que seria um imperialismo “benigno”, porque defensor de princípios multilaterais, que sofre o “maligno” desvio do unilateralismo.


Tais ilusões devem ser combatidas mormente agora quando o imperialismo norteamericano procede a flexões em sua política externa e encontra-se empenhado na mudança de imagem e na fixação de um perfil de potência que supostamente apregoa a democracia, o respeito à soberania nacional e ao direito internacional e promoverá uma correção de rumos na política externa no sentido do multilateralismo e da não intervenção política e militar nos assuntos de outros países. Estas ilusões estão na base de outra – a de que emergirá, democraticamente e sem conflitos, uma nova ordem multipolar em que os Estados Unidos serão uma espécie de primus inter pares na “comunidade internacional” e até um aliado ou parceiro estratégico, não mais o inimigo principal a combater.


De igual importância para a prática internacionalista dos comunistas é o combate às ilusões sobre as possibilidades de regeneração do capitalismo, tão em voga até pouco tempo antes de eclodir a presente crise econômica e financeira. Cegos às evidências de crise estrutural e sistêmica, de declínio progressivo e relativo da superpotência norte-americana, de deterioração do padrão dólar e do “longo crepúsculo do capitalismo”, na brilhante formulação de Jorge Beinstein, economista e ideólogo do Partido Comunista da Argentina, não foram poucos os que se deixaram ofuscar pela efêmera e limitada expansão da “era Clinton”. Trombetearam a retomada da “liderança econômica dos Estados Unidos” e chamaram de “catastrofistas” àqueles que insistiam em denunciar perante os trabalhadores e os povos as mazelas do capitalismo como sistema inerentemente gerador de crises.




O antiimperialismo num cenário contraditório




O internacionalismo dos comunistas e do povo brasileiro é exercido numa situação mundial paradoxal, marcada por uma unidade de contrários entre, de um lado, as ameaças à própria sobrevivência da humanidade e, de outro, as potencialidades revolucionárias e libertadoras das forças progressistas e dos povos e que derivam da própria realidade objetiva. As ameaças à sobrevivência humana, à paz, à segurança internacional, à democracia, aos direitos dos povos e à soberania nacional fazem parte das políticas levadas a efeito pelas potências imperialistas, pela grande burguesia monopolista e a oligarquia financeira internacionais.



As políticas que põem em prática são antagônicas aos interesses dos povos e aos direitos dos trabalhadores. A perdurarem essas políticas, a perspectiva é a da degradação continuada da humanidade e de suas condições de vida. É por isso que, sem nenhum dogmatismo, se faz mais atual do que nunca a disjuntiva vislumbrada pelos fundadores do marxismo – e que foi verbalizada por Rosa Luxemburgo nas primeiras décadas do século passado – entre o socialismo e a barbárie. Estamos convencidos de que ou detemos o curso perigoso que o mundo está seguindo – e para detê-lo é preciso muita luta – ou a perspectiva da humanidade é a degradação, a barbárie.



De outro lado, há muitas potencialidades, perspectivas e possibilidades de luta. Analisando os elementos mais marcantes do atual quadro internacional, justifica-se a adoção, na ordem do dia, da luta antiimperialista e do internacionalismo como tarefas essenciais dos comunistas. Quando nos referimos às ameaças contidas nas políticas do imperialismo, estamos também tratando da política de guerra, intervencionista e de militarização do planeta.



A partir de meados dos anos 1990 – depois da derrocada do socialismo na URSS e no Leste Europeu, da crise que isso ocasionou para os movimentos sociais e os partidos políticos de esquerda – vem acontecendo um processo de retomada da luta dos povos. Este é o lado contraditório que alimenta as potencialidades do desenvolvimento da resistência à ofensiva do imperialismo e do capitalismo.




Internacionalismo de massas



É em face dessa realidade que os comunistas praticam seu internacionalismo e imprimem a este um caráter de massas e de trabalho de frente única, o que estamos denominando de internacionalismo de massas ou o internacionalismo do povo brasileiro.



A multiplicação de atividades internacionalistas pelas entidades do movimento sindical e popular, a ação multilateral e multissetorial do Cebrapaz – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz - , hoje na presidência do Conselho Mundial da Paz, a realização de tribunais antiimperialistas, dos encontros contra a ALCA e dos Fóruns Sociais mundial, continental e brasileiro, assim como de manifestações contra as guerras imperialistas têm marcado o movimento democrático, popular e antiimperialista no Brasil nos últimos anos. As bandeiras da paz e da solidariedade com os povos são essencialmente revolucionárias, sendo falso confundir a luta pela paz com reformismo, pacifismo e capitulação.



A experiência demonstra que a bandeira da paz e da solidariedade aos povos tem caráter intrinsecamente revolucionário. Como assinala o Projeto de Resolução Política do 12º Congresso do Partido Comunista do Brasil, “A luta pela paz surge como uma das mais importantes frentes de combate antiimperialista. Luta que assumiu dimensões gigantescas quando da agressão norteamericana ao Iraque e que, embora num nível diferente, tem sido constante e diversificada, contra as armas nucleares, contra as bases militares, contra as guerras de ocupação”. Esta luta ganha ainda maior significado com a campanha que o Cebrapaz está realizando contra a 4ª Frota da Marinha de Guerra dos Estados Unidos, relançada para ameaçar os países e povos da América Latina e do Caribe.




Foco da solidariedade internacional




Neste contexto, é fundamental que os comunistas atuantes nos movimentos sociais incorporem a bandeira da luta contra a guerra, pela paz e pela solidariedade com todos os povos atingidos pela guerra imperialista. Os comunistas são solidários aos países do Oriente Médio agredidos pelos Estados Unidos e por Israel.



O Iraque e o Afeganistão foram invadidos logo depois do 11 de setembro, sob o pretexto de caçar Osama Bin Laden. A ocupação dura até hoje. No Iraque, os Estados Unidos concentraram nos últimos seis anos o grosso de suas ações no Oriente Médio. Gira em torno de 150 mil e o número de soldados americanos e aliados atuantes no país árabe. Agora, anuncia-se o aquartelamento dessas tropas e um plano ainda vago de retirada em 2011, elaborado em suas linhas principais pelo governo de Bush e ratificado pelo atual presidente dos EUA, Barak Obama, que anuncia o deslocamento do eixo da intervenção militar estadunidense na região para o Afeganistão, onde tem havido cruentas ações terrestres e bombardeios aéreos. Tanto no Iraque quanto no Afeganistão desenvolve-se uma encarniçada resistência popular que a propaganda oficial identifica com o terrorismo. Obviamente o movimento popular e a solidariedade internacional identificam-se com a resistência nacional antiocupação.



O Líbano, por sua vez, sofreu com a guerra provocada por Israel, instrumento dos EUA na região, e conseguiu vencer. Foi a primeira vez que o exército israelense sofreu uma derrota acachapante numa guerra com um país árabe. Por isso o Hezbollah se transformou numa força política decisiva e hoje conta com o respaldo de vastas camadas da população libanesa e de todo o Oriente Médio.



A Palestina, com seu povo martirizado há mais de 60 anos, é depositária da solidariedade militante dos comunistas e do povo brasileiro em sua luta pela criação do Estado livre, soberano e independente, tendo por capital Jerusalém.



Mesmo nos casos em que os comunistas não tenham identidade ideológica, sua solidariedade é indeclinável com os estados nacionais agredidos e ameaçados pelo imperialismo. Há 30 anos, desde a Revolução Popular que derrubou a monarquia despótica do xá Reza Pahlevi, os Estados Unidos perderam uma das suas principais bases na região do Oriente Médio. Desde então, os EUA conspiram para derrubar o governo iraniano e intervir no país.



A solidariedade militante se volta também para o conjunto dos países socialistas e não pode ser indiferente, sob falsos pretextos, às pressões, chantagens e ameaças do imperialismo estadunidense à República Popular Democrática da Coréia.





América Latina e EUA – Interesses antagônicos




Um dos polos mais importantes da luta antiimperialista na atualidade é a América Latina. A região sempre foi e continua sendo alvo da cobiça e dos planos de dominação do imperialismo. Os interesses dos povos e nações latinoamericanos e caribenhos são antagônicos aos do imperialismo estadunidense, mesmo quando este se apresenta, através de jogadas políticas, com nova linguagem e roupagem.


O quadro político e a luta democrática e popular na América Latina experimentaram extraordinária evolução ao longo dos últimos 10 anos. Desde 1998 – quando Hugo Chávez foi eleito presidente pela primeira vez – há uma verdadeira onda de movimentos sociais e políticos e vitórias eleitorais de forças progressistas. Esse processo teve reflexos em países como Uruguai, Brasil, Paraguai, Bolívia, Equador, Nicarágua, Argentina, El Salvador. A luta é para que este novo ciclo tenha prosseguimento, que essa onda de vitórias progressistas se prolongue e se consolide.



Na Colômbia persistem os impasses decorrentes da vigência de um regime antidemocrático, ao passo que o movimento popular insiste em construir saídas para o conflito armado. No México, cresce a oposição a um governo que é resultado da fraude e se distingue pelo entreguismo e a corrupção. No Peru, o exercício de políticas antipopulares e o massacre a populações indígenas desmascaram o governo e fazem crescer o clamor por mudanças.




No contexto latinoamericano, Cuba se destaca como força simbólica maior, inspiradora de todos os movimentos revolucionários do continente. Uma posição internacionalista do movimento social brasileiro é indissociável da solidariedade a esse heróico povo, à sua luta contra o bloqueio e pela libertação dos seus heróis encarcerados nos Estados Unidos.


Em meio a tudo isso, aparecem algumas situações – e o caso mais típico é a Venezuela – em que da vitória eleitoral, o presidente vencedor se proclama antiimperialista, revolucionário, defensor da libertação dos povos e da revolução socialista, o que aparece como o fator mais novo e dinâmico da luta pela libertação nacional e social na região. Nossa tarefa é reforçar esses processos revolucionários, democráticos e progressistas com todos os matizes que possam ter.




* Jornalista, escritor, especialista em Política e Relações Internacionais, secretário de Relações Internacionais do PCdoB e diretor do Cebrapaz



Fonte: Vermelho

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Nota da UJS-Foz em relação ao fechamento dos bares após a meia-noite

Foz, suas especificidades e o fechamento dos bares, lojas de conveniência e similares após a meia-noite

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Está sendo proposto pelo vereador Mogênio (PMDB) o projeto de lei Nº 18/2009 que trata do funcionamento dos bares, lojas de conveniência e similares. O projeto pretende que esses estabelecimentos sejam fechados após a meia-noite e somente reabertos às 6h como medida de combate à violência.

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“A violência nos persegue o tempo todo. Muitos dos nossos nos ferem ou se matam em disputa entre gangues, ou são espancados pelos próprios pais. Outros recebem uma bala perdida ou são vítimas de assalto ou perseguição. No capitalismo não temos paz”.

Foz possui suas especificidades. Tríplice fronteira, rota do tráfico internacional de armas e drogas. Cidade que abriga uma das maravilhas da engenharia moderna e ao mesmo tempo carrega o peso de ser a cidade onde proporcionalmente mais morrem jovens no país.

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Mas não está nossa cidade desconectada de todo um sistema historicamente superado. À juventude cabe amargar o melhor de sua criatividade e energia na fila dos desempregados. Impregnados pelo individualismo somos aproveitados de forma meramente mercantil.

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“A insegurança toma conta dos grandes centros. Esse meio não nos interessa, não nos satisfaz, queremos uma cidade capaz de incluir a todos sem discriminação de crença, cor, gênero e classe social”.

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Analisando o projeto, observa-se que a medida visa o fechamento dos bares nas regiões que estão fora do circuito turístico. Portanto fecham-se os pequenos dos bairros pobres, enquanto os grandes e freqüentados pela elite continuam abertos.

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Nenhuma ação tomada isoladamente resolverá este complexo problema que é a segurança urbana. Portanto se faz necessária uma ampla discussão sobre este delicado tema dado que o simples fechamento destes locais funcionaria mais como uma medida segregacionista e de exclusão do que uma solução construtiva para este problema.



UNIÃO DA JUVENTUDE SOCIALISTA - FOZ DO IGUAÇU

terça-feira, 7 de julho de 2009

Protógenes dialoga com PCdoB para dar 'novo viés' à sua luta

Mais uma vez o trabalho de investigação do delegado Protógenes Queiroz ganha as manchetes. A Procuradoria da República em São Paulo denunciou o banqueiro condenado Daniel Dantas e mais 13 pessoas, sob acusações como gestão fraudulenta e evasão de divisas. Mais um resultado da Operação Satiagraha. Nesta entrevista exclusiva ao Vermelho, Protógenes se considera ''um delegado com um aviso prévio''. Busca ''um outro viés'' para a sua luta, sem ocultar que este passa por 2010. Em um país que segundo ele ''se bipolarizou'', revela que tem ''falado com vários partidos'', mas há um ''que equilibra o país no campo da esquerda brasileira, que é o PCdoB''.



Protógenes na manifestação do 2 de Julho na Bahia Por estas e por outras, Protógenes acabou se tornando uma referência da luta contra o banditismo de rico no país. Andar com ele na rua não é fácil. Seja onde for, do Aeroporto à Praça Sete de Belo Horizonte, o delegado da Polícia Federal é parado por pessoas que reconhecem e elogiam o seu trabalho.


Em comum, a solidariedade em relação a perseguição que vem sofrendo de instituições públicas e privadas que agem a serviço de Dantas. O personagem Protógenes traz bastante curiosidade, mas mais curioso é o sentimento que ele desperta nas pessoas: de cansaço com a corrupção que corrói a estrutura do Estado; e também de esperança em um futuro em que o compromisso com o Brasil esteja acima de tudo.


O delegado tem percorrido o país inteiro atendendo a convites para palestras e debates, a maioria organizadas por estudantes de direito. Em uma das passagens por Belo Horizonte, Protógenes fez uma visita de cortesia à sede do PCdoB estadual, onde deu uma descontraída entrevista exclusiva para o Vermelho. Nela, o delegado fala de sua carreira, da Satiagraha e do seu passado de militante estudantil, quando se aproximou dos comunistas. “Posso lhe assegurar hoje que a política tem um partido que equilibra o país no campo da esquerda brasileira, que é o PCdoB. Este partido tem uma política mais responsável”, comentou o delegado. Veja os trechos principais.


Vermelho: Vamos começar contando suas raízes?


Protógenes Queiroz: Bem, eu nasci em Salvador, Bahia, em 1959. Meu pai era militar da Marinha, instrutor de aviação naval. Logo quando nasci, meu pai teve de ir para o Rio de Janeiro e ajudar na intervenção na cidade, que na época tinha sofrido uma intervenção pelo almirante Protógenes Guimarães. Em decorrência dessa amizade fraterna que ele tinha, me batizou com o mesmo nome, homenageando o amigo.


No Rio, a primeira cidade em que habitamos foi a Niterói, em um bairro chamado Barreto. Depois fomos viver em uma cidade vizinha, chamada São Gonçalo, onde eu tive praticamente toda a minha adolescência. Estudei em escola pública meu ensino fundamental, na Escola Municipal Presidente Castelo Branco, então, um ensino público de qualidade.


Então no ano de 79 eu presto vestibular, e meu pai pensou que como eu havia prestado vestibular pra Engenharia e pra Direito, mas que eu estava fazendo Engenharia, mas eu optei por fazer Direito, apesar de ter passado em Engenharia. E no terceiro mês meu pai descobre que eu to fazendo Direito, ai ele cortou o pagamento da faculdade, eu era menor na época e me inscrevi no crédito educativo. Nisso eu contei para minha mãe, eu falei mãe meu pai cortou o pagamento e eu vou ter que parar de estudar, porque ele quer que eu faça Engenharia e eu não quero, quero fazer Direito.


Vermelho: Como se deu seu primeiro contato com a política?


Protógenes: Eu era um aluno que contestava muito no colégio e havia um apelo muito forte dos professores daquela época que eram contra o regime militar. Lembro-me que eu organizei junto com colegas nosso trabalho para a feira de ciências. Eu preparei uma sala que tinha pau-de-arara, cadeira elétrica, choque elétrico. Em vez de sala de pesquisa científica, fizemos uma sala de tortura para mostrar nossa indignação com o que estava acontecendo no país. O muro do colégio apareceu escrito “Terrorista é ditadura que mata e tortura”.


Então aquilo já foi uma confusão, principalmente porque a feira de ciências recepcionou muitas autoridades da época, mas também muitos agentes da força de repressão. E os militares queriam saber qual a origem daquelas frases no muro, isso foi em 70, no auge da ditadura, quando estava morrendo muita gente. E também fizemos um jornal que se chamava Alerta Geral, que continha muitos textos de contestação política na época.


Eu estava apenas com 14 anos e já paguei um preço, porque minha casa foi invadida por agentes da força de segurança, para tentar confiscar os jornais. O jornal teve apenas uma edição, e foi rodado no mimeógrafo. E fizeram um conselho para expulsar os alunos que estavam envolvidos naquele jornal e na configuração da sala de tortura. E eu acabei assumindo toda a responsabilidade para inocentar os meus colegas. E cresço nesse ambiente, equilibrando toda essa veia contestatória.


Eu participei do primeiro congresso da UNE em 1980 salve engano, como delegado da UNE. E naquela época falavam o seguinte quando você voltar, você está preso, porque na faculdade vão te pegar, vão te pegar em casa. Tanto é que eu volto do Congresso da UNE, onde teve muita confusão. Elegemos lá o Aldo Rebelo, que hoje é deputado Federal, grande camarada.


Entro na juventude co munista na adolescência ainda, naqueles grandes arautos do Partido Comunista Brasileiro. Recebendo muitos ensinamentos sobre a doutrina, sobre o conhecimento. Eu era o mais jovem desse grupo, me chamavam de garoto. Esse menino ainda vai ser um grande homem desse país. Eu não pegava muito esse “grande homem” que eles diziam, mas eu olhava esses ensinamentos como fundamentos doutrinários e de construção de uma nação. Uma nação que ela produz uma riqueza para seu povo.


Vermelho: Como surgiu a figura do delegado da Polícia Federal?


Protógenes: Passei quase 12 anos exercendo minha advocacia privada, onde consegui o que eu almejava enquanto profissional. Certo dia, fui pagar uma conta na agência do Banco do Brasil e tinha um cartaz do concurso para a Polícia Federal. Defini por este rumo porque teria atribuição para prender todo mundo, para prender gente grande e poderosa. É isso que está precisando nesse país [disse], um profissional desse jeito e eu vou para essa carreira.


Fiquei mais de 10 anos na Policia Federal, onde eu dei minha contribuição para o Brasil. Só não continuei porque não me permitiram continuar. Mas até onde me permitiram a contribuição foi muito boa.


Nesses mais de 10 anos como delegado eu consegui a prisão de pessoas muito importantes que jamais ninguém pensou que iriam ser presas. Os do Banco Pascoal, mais 40 indivíduos que continuam presos até hoje.O maior contrabandista do Brasil, Lao Kin Chong, preso em São Paulo. Em São Paulo eu prendi não só o maior contrabandista como o ex-presidente da Câmara, Armando Melão, o ex-prefeito Celso Pitta e o ex-prefeito e governador Paulo Maluf. Toda a administração pública do Estado foi presa por corrupção, por desvio de recurso público, lavagem de dinheiro, evasão de divisas. É muito grave! Até árbitro de futebol, máfia do apito, corrupção no futebol. Foram tantas operações, combati lavagem de dinheiro e evasão de divisas do Banco Banestado, em Foz do Iguaçu, que era a maior lavanderia do Brasil.


Eu cumpri meu papel enquanto servidor público federal, enquanto delegado da Polícia Federal. Só não fiz mais porque não me permitiram. Aí o Brasil ficou conhecendo o delegado Protógenes. E vocês, jornalistas, começaram a linkar um fato com outro para descobrir quem fez aquela operação, aquela prisão, quem bloqueou os recursos quem identificou as contas no exterior e deu o caminho para o bloqueio.


Isso me deu uma satisfação, uma felicidade e um sentimento de dever cumprido, porque a população soube recepcionar isso com muito carinho, com muito respeito. A todo tempo eu saio nas ruas sou cumprimentado de uma forma educada e de uma forma agradecida.


Mas agora [tenho] outro viés, porque como delegado de Polícia Federal hoje eu estou afastado. Eu sou um delegado com um aviso prévio. O afastamento foi por um motivo absurdo, injusto. Mas a estrutura de poder que hoje está em vigência no Brasil é que permite isso, pegar um profissional, do qual o Brasil em muito se beneficiou, e tentar neutralizar esse profissional. Mas isso eu acredito que não seja por um longo período de tempo. Porque há uma exigência popular maior para que eu continue a trabalhar no combate à corrupção, ou dentro ou fora da Policia Federal.


Vermelho: Falando nisso, como analisa o fato de um juiz aceitar que a defesa de Daniel Dantas seja assistente de acusação contra o senhor?


Protógenes: Há uma total inversão de valores, desde quando nós deflagramos a Operação Satiagraha. Isso não é surpresa, chegar a esse absurdo, eu nunca vi isso, do Dantas querer ser assistente da acusação do meu processo.


No caso ali, ele é que é o bandido, quer dizer o Daniel Dantas foi condenado a 10 anos de prisão, ao pagamento de multa de mais de 12 milhões de reais, ao bloqueio de dinheiro que eu identifiquei, contas [no valor] de quase 3 bilhões de dólares, que saíram de cofres brasileiros e estão em paraísos fiscais.


E agora vem querer ser assistente de acusação? Nós é que devemos acusá-lo de mais crimes que ele praticou, e que ainda faltam ser apurados. Que ainda faltam ser investigados, porque a investigação da Polícia Federal já identificou. Nós é que temos esse direito, não eles.


Então há uma total inversão de valores, e é um instituto que não espanta mais os brasileiros. São decisões absurdas, infundadas, inadequadas que às vezes agridem até a própria cidadania e aos instrumentos legais constituídos no país.


Como a gente vai concordar que um indivíduo tenha 1.402 licenças de exploração do subsolo brasileiro, sem saber como ele conseguiu essas licenças? Tem ali ouro, bauxita, manganês, diamante. Que história é essa? Qal é a situação do banqueiro condenado Daniel Dantas? É o grande gerente dessas jazidas no Brasil.


Mas a população está indignada, está insatisfeita, porque chegamos a um nível de maturidade onde não somos mais manipulados, por mídia nenhuma. Hoje a informação é linear. Após o advento da internet, blogs e meios diversos, você tem uma linearização, não mais uma verticalização da informação.




Vermelho: Esta sua situação o fez compreender um pouco melhor o quadro político do país. Qual a sua análise depois destes meses rodando?


Protógenes: Hoje o Brasil se bipolarizou. Existe o bloco capitaneado pelo PSDB, e suas forças correlatas, com interesses mais conservadores, política mais neoliberal, política essa que causou um prejuízo imenso à população brasileira, um prejuízo histórico à nossa nação.


E temos aqui outros partidos que se aglomeraram em torno do PT, fazendo uma política de correlação de forças para resistir ao que essa política conservadora iniciou. Para haver uma distribuição equânime das riquezas do país, controle da sociedade, equilíbrio na divisão de renda. Ou apenas para minimizar não só as desigualdades sociais, mas também a distância entre a população mais pobre e a mais abastada.
Dentro desse quadro posso lhe assegurar que desses partidos que se aglomeraram em torno da esquerda, com o PT, partidos que se encontram estruturalmente, organicamente, que saíram fortalecidos nesse processo falido, é o PCdoB. Posso falar porque tenho falado com vários partidos, em razão do caráter e experiência que carrego.


Então tem surgido um diálogo nesse sentido. Eu fiquei muito feliz por ser recepcionado como aqui na sede do Partido Comunista do Brasil. E de perceber que todo aquele ideário do passado, enquanto eu ainda era adolescente, aconteceu ou está acontecendo. Nós conseguimos vencer toda essa barreira que tinha no passado. Todo aquele estigma. Posso lhe assegurar hoje que a política tem um partido que equilibra o país no campo da esquerda brasileira, que é o PCdoB. Tem uma política mais responsável, dentro desse quadro que nós temos hoje no Brasil.


Eu classifico o momento político da seguinte forma: vamos aproveitar a estrutura orgânica de um país que venceu, de um partido que venceu todas as barreiras negativas, venceu e superou todas as perdas do quadro político partidário. Muitos sumiram muitos morreram, mas nunca perderam não só a esperança, mas o comprometimento com a causa que lhe foi posta ou colocada quando o partido foi criado. Então esse partido conseguiu ao longo desses 87 anos manter nessa estrutura político-partidária, o que é muito difícil. E ainda carregando todo um histórico pesado de resistência e de luta. Eu classifico o Partido Comunista do Brasil como um grande vencedor nessa estrutura político-partidária brasileira.


Esta minha visita aqui na sede do PCdoB é um reencontro com a minha história de estudante. Quero deixar aqui meu carinho, meu apreço pelo Partido Comunista do Brasil, em especial aos dirigentes desse partido que honraram com os compromissos estabelecidos a mais de 87 anos. Isso nos dá um orgulho muito grande e também nos fortalece para uma caminhada, e até uma possibilidade de trabalho para o futuro. Quero também deixar aos internautas do portal Vermelho, que muito tem contribuindo para manter viva essa discussão e esse debate em prol da causa pública, em prol do resgate a ética, a moral, do resgate as símbolos nacionais e, sobretudo os resgates a respeito da Constituição da República.


De Belo Horizonte,
Kerison Lopes


Fonte: Vermelho