domingo, 2 de agosto de 2009

Doenças na moda e fora de moda

O povo, em sua sabedoria, diz que a corda arrebenta no lado mais fraco. As doenças, igualmente, tornam-se epidemias especialmente nas regiões em que as populações estão mais fragilizadas pelas más condições de vida. O agravamento das várias gripes por conta de um inverno típico, ao contrário dos invernos anteriores, que presentaram escassos dias realmente frios, multiplicou a sensação de gravidade da gripe da moda, a dita gripe A, transmitida por um vírus batizado Como “H1N1”.

A explosão de casos fatais na América Latina, que já responde por dois terços das mortes registradas no mundo, está deixando as autoridades do setor médico ou paralisadas, tentando minimizar o impacto da doença por se considerarem sem instrumentos de reação, ou desesperadamente saindo a armar um escudo de proteção às suas comunidades. Este foi, por exemplo, o caso do Conselho Regional de Medicina, por sua representação em Cascavel, cujos profissionais de saúde concluíram que a cidade está na iminência de perder o controle da situação e é preciso agir. Em vários pontos do Paraná, a começar pela capital, as escolas estão suspendendo temporariamente as aulas e o Ministério da Saúde a toda hora presta declarações sobre ações pontuais e gerais a respeito do problema.

Pela agitação, mais que visível, a operação se dá em duas pontas: de um lado, procuram-se agilizar todos os mecanismos para enfrentar a ameaça de uma pandemia. De outro, buscam tranquilizar a população com informes amenizados, que a ação forte – suspender aulas – por exemplo, põe abaixo com a suspeita de que as coisas estão além da possibilidade de controle oficial. Essa mobilização, no entanto, deveria ser feita de forma sistemática, pois se a gripe A está na moda, as doenças fora de moda continuam matando – e bem mais que a gripe plantonista. As Doenças da pobreza e o abandono matam ao redor de 250 brasileiros por dia, mas não se fecha escolas por isso, uma vez que essas mortes são causadas por males como diarréia, desnutrição, malária, tuberculose, dengue, febre amarela e falta de assistência médica.

Se não forem à aula e ficarem em casa, ali mesmo, no lar, para os pobres,há mais riscos de sucumbir a esses males que na escola.

Embora natural, a medida de suspender aulas e ajuntamentos em locais fechados tende a não produzir um controle efetivo da doença, pois as crianças e também adultos não estão livres do mal simplesmente por presumir que vão se trancar em casa.

Não vão, é claro. Entrarão em lotações apinhados para ir trabalhar. E como as imagens na imprensa mostram pessoas com máscaras,acredita-se que elas sejam uma solução para evitar a aquisição do vírus quando, na verdade, são apenas uma forma de evitar que a pessoa doente espalhe vírus pelo ar – e a gripe transmitida pelo vírus H1N1 não se transmite especialmente pelo ar, mas pelo contato. Mais vale manter as mãos limpas que acreditar no falso efeito terapêutico de uma máscara, mais aconselhável para os enfermos.

Certamente há necessidade de um mutirão, primeiramente de esclarecimento e transmissão de noções de higiene, para enfrentar uma ameaça que dá sinais de que pode assumir um status pandêmico.

As medidas de suspender aulas, cultos religiosos e festas também são válidas, desde que integrem um conjunto de ações que visem a transmitir a verdade sobre a doença – e também sobre as demais doenças da pobreza. Pois, invariavelmente, quanto mais pobre e debilitada for a pessoa, mais facilmente contrairá essa e outras doenças, da moda ou fora de moda.

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